Espécie problemática atual
O Brasil, segundo pesquisadores, é o país das Américas em que ocorre o maior número de plantas do gênero Digitaria. São 38 espécies, das quais 26 nativas e 12 exóticas, e em específico o capim-amargoso (Digitaria insularis – Poaceae) é uma gramínea, perene, rizomatosa, e que forma touceiras.
Cada planta produz até 60 mil sementes por ano, as quais são facilmente propagadas pelo vento. Possui metabolismo fotossintético do tipo C4 (alta eficiência na produção de biomassa em condições de temperaturas elevadas), pode produzir aleloquímicos (que gera alelopatia), abriga pragas (como os percevejos), doenças (como o cancro cítrico), sendo agressiva na competição e, assim, interferindo na produtividade agrícola das culturas.
Segundo pesquisas conduzidas pela Embrapa Soja e Unesp de Jaboticabal, o rendimento médio na soja e no milho pode ser afetado em até 44% e 54%, respectivamente (em densidades de 04 a 08 plantas/m2). Assumindo este convívio com plantas de capim-amargoso, o produtor pode perder até metade da sua produção devido a essa infestante.
Tais resultados foram confirmados em pesquisas conduzidas a campo na região oeste do Estado do Paraná, nos anos de 2015, 2016 e 2017, pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e Supra Pesquisa (Grupo de Pesquisa em Sistemas Sustentáveis de Produção Agrícola).
Problema grave
A dificuldade de controle do capim-amargoso com herbicidas é relatada há muito tempo. O primeiro relato da suscetibilidade diferencial ao herbicida glyphosate entre plantas desta espécie ocorreu em 2006, no Paraguai.
No Brasil, Fernando Adegas e Dionísio Gazziero da Embrapa Soja identificaram plantas resistentes no oeste do Paraná, no ano de 2008 (http://www.weedscience.org/Details/Case.aspx?ResistID=5350). Nos últimos anos, em uma amostragem de 2.593 populações do capim-amargoso no Brasil, 57% apresentaram-se resistentes ao herbicida glyphosate.
Os casos mais preocupantes encontram-se no Estado do Paraná, onde mais de 80% das populações amostradas confirmaram-se resistentes, indicando a urgência de estratégias de manejo dessa espécie para o Estado (segundo afirmam Ramiro F. Lopez Ovejero e colaboradores de uma pesquisa publicada em 2017 pela Weed Science SocietyofAmerica).
No entanto, o problema não está somente no Paraná, e infelizmente, hoje, segundo estudos recentes, a área com problema de capim-amargoso é maior que oito milhões de hectares. Ou seja, a área com problema de capim-amargoso já é aproximadamente metade daquela cultivada com milho e será em breve um terço da área de soja. Em outras palavras, o problema é grande e só tende a aumentar.
E essa ocupação ou domínio das lavouras leva a prejuízos para o agronegócio brasileiro, que para o caso do capim-amargoso pode chegar a valores exorbitantes só no controle. Em estudo publicado recentemente pela Embrapa Soja (Circular Técnica 132, de agosto de 2017), chegou-se aos seguintes números: o custo total de controle aumenta para o intervalo entre R$ 1.454.200.000,00 a R$ 2.047.650.000,00, com incremento médio de R$ 1.750.925.000,00 ao ano, levando em consideração a resistência ao glyphosate.
O pior cenário em relação ao aumento dos custos é a presença de capim-amargoso e buva (Conyza spp.) em infestação mista, situação estimada em 2,7 milhões de hectare, onde os custos aumentam entre R$ 793.260.000,00 e R$ 1.294.650.000,00, com incremento médio de R$ 1.041.255.000,00 por ano. O mesmo estudo ainda aponta valores assustadores para o controle na cultura da soja, que pode chegar por hectare para o produtor a R$ 372,30 para controle de capim-amargoso e R$ 479,50, se tiver capim-amargoso mais buva.
E fica o alerta, pois as coisas podem piorar! Por quê? Simplesmente porque estamos “fazendo sempre as mesmas coisas do mesmo jeito”! Melhor dizendo, está sendo feito um mau manejo, aumentando a pressão de seleção e agravando a questão de resistência das plantas daninhas em geral. Isso será explicado melhor a seguir.
O impacto da resistência do capim-amargoso a herbicidas
A resistência de plantas daninhas é um problema global. Hoje, existem no mundo 486 casos únicos de plantas daninhas resistentes a herbicidas, compreendendo 253 espécies. No Brasil há 49 casos registrados, entre eles a resistência do capim-amargoso ao herbicida glyphosate.
Ressalta-se ainda que já existem populações de capim-amargoso com resistência somente a herbicidas graminicidas inibidores da ACCase, principal ferramenta utilizada no controle químico em pós-emergência da espécie quando resistente ao glyphosate. Informações como as anteriormente mencionadas são atualizadas constantemente e podem ser consultadas no “InternationalSurveyofHerbicideResistantWeeds” (http://www.weedscience.org/Summary/Country.aspx).
Comentários
Postar um comentário
Os comentários não emite nenhuma opinião do blog, sendo de total responsabilidade do usuário.