Henrique Pose Guerra1 , Paul Lineker Amaral1 , Maria Regina Gmach2 , Maurício Roberto Cherubin1 , Carlos Clemente Cerri1 1
Centro de Energia Nuclear na Agricultura - Universidade de São Paulo, Mestrando, Piracicaba - SP, henrique.guerra@usp.br; 2 Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" - Universidade de São Paulo.
Palavras-chave: manejo de resíduos; etanol 2G; estoque de carbono do solo.
Existe uma crescente demanda global por biocombustíveis. Uma das principais estratégias
para atender essa demanda é o aproveitamento dos resíduos culturais para a produção de etanol
de segunda geração (2G). Entretanto, a manutenção da palha no campo (10 a 30 Mg ha-1 ano-1) pode
propiciar benefícios nos atributos químicos, físicos e biológicos (LEAL et al., 2013), e em especial,
promover o aumento do estoque de C no solo (CERRI et al., 2011). Desta forma, deve-se buscar um
equilíbrio entre a quantidade de palha removida para produção de 2G e a quantidade que permanece
no solo, para manter os estoques de C e consequentemente a sustentabilidade do sistema de produção.
Neste contexto, o objetivo do estudo foi avaliar os efeitos de quantidades de palha de cana-deaçúcar
deixadas na superfície do solo no estoque de C orgânico do solo.
Dois experimentos foram conduzidos, próximo a Capivari – SP na unidade Bom Retiro (BR) e
próximo a Valparaiso – SP na unidade Univalem (UV). O tipo de solo de cada área experimental foi,
respectivamente, LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico e ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO
Distrófico típico. O delineamento utilizado foi blocos ao acaso com seis tratamentos e quatro
repetições. Os tratamentos testados foram as seguintes quantidades de palha em massa de matéria
seca: BR (0; 3,4; 7,8; 13,0; 16,6; 15,6 Mg ha-1) e UV (0; 4,2; 8,7; 15,1; 18,9 Mg ha-1), os quais equivaleram
a diferentes intensidades de remoção (i.e., 100, 75, 50, 25, 0 %).
Os atributos avaliados foram: teor
e estoques de C dos solos. Na instalação dos experimentos coletou-se amostras deformadas de solo
nas camadas 0-10; 10-20; 20-30; 30-40; 40-50; 50-60; 60-80 e 80-100 cm; e após um ano de efeito
da remoção da palha, coletou-se nas camadas de 0-5 e 0-10 cm. Em cada parcela foram coletadas
três subamostras. Além disso, amostras indeformadas foram coletadas usando anel volumétrico para
determinar a densidade do solo, parâmetro necessário para calcular o estoque de C do solo.
Os procedimentos de determinação do teor total de C incluem o peneiramento com malha 100
mesh, seguido de combustão a seco em analisador elementar LECO® CN-2000, com forno a 1350 °C
sob fluxo de oxigênio puro. Os teores de C e seus estoques totais foram quantificados no momento da
instalação dos experimentos para a caracterização do solo (linha de base) e após um ano de condução
dos experimentos, utilizando a equação:
Estoque de C[R1] (Mg ha-1) = teor de C (%) x densidade do solo (Mg m-3) x profundidade da
camada (cm).
Os dados foram submetidos a análise de variância e quando significativos (teste F p < 0,05), as
médias foram comparadas pelo teste de Tukey (p < 0,05).
As densidades do solo variaram de 1,18 a 1,42 Mg m-3 para BR e variaram de 1,42 a 1,60 Mg m-3
para UV. Na área BR não foram observadas diferenças estatísticas significativas entre as densidades
do solo em profundidade, enquanto que na área UV a camada 0-10 cm apresentou densidade significativamente menor que aquela observada nas camadas mais profundas (10 -30 cm). Entre os
dois locais estudados, os maiores valores de C foram observados para BR. Os teores de C para a linha
de base deste estudo variaram de 3,1 a 12,6 g kg-1 para o experimento BR e de 2,7 a 6,8 g kg-1 para o
experimento UV. Maiores teores de C na BR estão relacionados predominantemente à granulometria
do solo, o qual possui maior teor de argila e consequentemente maior capacidade de reter C por
meio de ligação organo-minerais (RANGEL; SILVA, 2007). Ambos locais mostraram maiores teores de
0-10, 10-20 e 20-30 cm do que no resto do perfil onde se apresentou uma tendência de diminuição
conforme o aumento de profundidade (MISHRA et al., 2009).
Os estoques de C acumulados da camada 0-30 cm variaram de 38,9 a 46,7 Mg ha-1 no solo de BR e
de 20,9 a 23,5 Mg ha-1 no solo da UV. Esses valores foram menores daqueles anteriormente verificados
por Cerri et al. (2011) em solos de textura argilosa e arenosa, respectivamente. Em relação ao estoque
de C para a camada de 0-100 cm, encontrou-se valores de 85,9 a 100,4 Mg ha-1 para a área BR e 53,3
a 58,9 Mg ha-1 para a área UV. Não foram apresentadas diferenças estatísticas pelo teste de Tukey (p
< 0,05) tanto nos teores quanto nos estoques de C da linha de base. Esses valores estão dentro da
faixa verifica por Oliveira et al. (2016) em diferentes solos cultivados com cana-de-açúcar na região
centro-sul do Brasil.
Os resultados de teores de C após um ano de efeito da palha sobre o solo variaram de 12,7 a
16,4 g kg-1 para a área BR e de 6,4 a 7,8 g kg-1 para a área UV. Observa-se que o teor de C da área BR
foi superior ao da área UV e ambos locais mostraram valores maiores na camada superficial do solo
(0-5 cm) em comparação com a camada que integra maior profundidade (0-10 cm). Os estoques de C
variaram de 8,25 a 11,20 Mg ha-1 para 0-5 cm e de 16,76 a 20,30 Mg ha-1 para 0-10 cm na área de BR,
enquanto que na área UV os estoques de C variaram de 4,70 a 5,90 Mg ha-1 na camada 0-5 cm e de 8,62
a 9,03 Mg ha-1 para a camada de 0-10 cm.
Foi observado na implantação, inclusive nas parcelas sem palha. Isso pode ser explicado pelo C
provenientes dos exudatos radiculares.
Cerca de 30 a 40 % do carbono C orgânico total presente nos solos podem ser derivados dos
exsudatos radiculares e material de raízes mortas (GRAYSTON; VAUGHAN; JONES, 1997).
Nossos resultados demonstraram que um ano após a implementação dos experimentos, os
teores e estoques de C do solo não foram afetados significativamente pelo manejo de remoção da
palha de cana-de-açúcar. Isto provavelmente está associado ao curto espaço de tempo para decompor
totalmente a palha da cana-de-açúcar, devido à alta relação C:N (próxima a 100), e consequentemente
estabilizar o C aportado ao solo em formas mais humificadas.
Desta forma, conclui-se o manejo de remoção da palha de cana-de-açúcar não induziu mudanças
significativas nos estoques de C do solo, as quais se existirem, serão expressos em um tempo maior
de condução do experimento.