A pesquisa recomenda bactérias eficientes para a
fixação biológica de nitrogênio (FBN) em pau-rainha (Centrolobium
paraenseTul.), árvore nativa do Estado de Roraima, indicada para
evitar erosão, com bom potencial para exploração madeireira e com capacidade de
fixar nitrogênio, economizando adubação e melhorando a qualidade do solo.
O trabalho inclui o desenvolvimento de protocolo para
produção de mudas, etapa importante, já que a planta poderá ser incluída em
programas de recuperação de áreas desmatadas da região Norte, atendendo o novo
Código Florestal Brasileiro.
FBN
O nitrogênio é um dos elementos mais importantes para
o crescimento vegetal. É fornecido às plantas por meio de grupos bacterianos em
um processo conhecido como fixação biológica de nitrogênio (FBN).
Dentre essas bactérias, as mais utilizadas são os
rizóbios, que se associam de forma específica a plantas leguminosas. Esses
microrganismos colonizam raízes com a formação de estruturas denominadas de
nódulos, que conseguem captar o nitrogênio do ar e disponibilizá-lo às plantas.
Entre as vantagens trazidas pelo uso da FBN está a
redução de investimentos em adubação nitrogenada, o que representa uma economia
anual de U$ 6,6 bilhões só no Brasil. Além disso, é uma tecnologia agrícola
sustentável que ajuda a diminuir a contaminação de recursos hídricos e a
emissão de gases de efeito estufa.
A FBN é um processo realizado por bactérias capazes de
capturar o nitrogênio que está presente no ar na forma de um gás (N2) e transformá-lo em
amônia (NH3), permitindo que a
planta assimile o nitrogênio, elemento essencial ao desenvolvimento vegetal. A
aquisição desse importante macronutriente pelas plantas pode ser por meio de
adubação, pelo uso de matéria orgânica do solo e pela fixação biológica.
O experimento
O pau-rainha é uma leguminosa arbórea que se beneficia
do processo de FBN pela simbiose com bactérias conhecidas como rizóbios,
relação que está sendo estudada por pesquisadores da Embrapa desde 2010.
Os estudos revelaram uma grande diversidade de
bactérias que realizam esse processo e foram isolados 178 rizóbios oriundos de
diversas regiões do Estado de Roraima. Esses microrganismos foram identificados
e foi encontrada, entre eles, uma nova espécie do gêneroBradyrhizobium nomeada Bradyrhizobiumneotropicale,
que se tornou a primeira bactéria desse gênero nativo do Brasil.
“Conhecer a diversidade de bactérias associadas ao
pau-rainha facilitará a produção de mudas e a utilização dessa leguminosa em
manejos sustentáveis e programas de recuperação de áreas nativas desmatadas,
sem a introdução de espécies exóticas na região”, explica a pesquisadora da
Embrapa Roraima, Krisle da Silva.
A cientista é uma das coordenadoras da pesquisa e já
está trabalhando na propagação de mudas de pau-rainha em viveiro, inoculadas
com bactérias eficientes no processo de FBN. Essa etapa é uma exigência do
Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a indicação de
inoculantes comerciais para a planta.
A pesquisa também buscou avaliar a eficiência dessas
bactérias, visando encontrar os rizóbios que mais contribuem com o fornecimento
de nitrogênio para o pau-rainha. Segundo Krisle, a maioria das bactérias
nodulantes descritas foi isolada a partir de leguminosas de grande interesse
agrícola, como a soja e o feijão-caupi, mas ainda há poucos estudos sobre
leguminosas arbóreas e sua interação com bactérias fixadoras de nitrogênio.
Bactérias selecionadas
A pesquisa tem o objetivo de selecionar rizóbios
eficientes na atividade de fixação biológica de nitrogênio para a produção de
mudas. As etapas da pesquisa envolveram coletas em ilhas de mata do Estado de
Roraima de raízes de pau-rainha para obtenção dos nódulos e posterior
isolamento das bactérias em meio de cultura.
De um total de 355 nódulos selecionados, 178 rizóbios
foram isolados. Desses, com base em informações obtidas após a caracterização
fenotípica, genética e capacidade de nodulação (a capacidade de realmente fixar
nitrogênio), 18 foram selecionados para os testes em mudas de pau-rainha.
No primeiro teste, em casa de vegetação, quatro
bactérias se destacaram na produção de mudas de pau-rainha, entre elas a
espécie Bradyrhizobiumneotropicale.
Os testes com as quatros bactérias foram realizados
novamente, mas na produção de mudas em viveiro. A etapa de testes em viveiro é
importante para a recomendação desses rizóbios como inoculantes, o que
promoverá maior eficiência na produção de mudas. Além dos testes em viveiro, as
mudas inoculadas com essas estirpes serão avaliadas em condições de campo, o
que ocorrerá em maio de 2016.
Segundo a técnica de laboratório da Embrapa Roraima,
Eliane Cunha, essas quatro bactérias já foram incluídas na Coleção de
Microrganismos Multifuncionais da unidade.
Eliane lembra que este tipo de pesquisa é bastante
complexa e leva muito tempo. “Já estamos na fase de testes em viveiros, uma
alternativa para propagar o pau-rainha e integrá-lo em programas de reflorestamento.
Também já foram publicados dois artigos científicos que descreveram as
bactérias eficientes na fixação biológica de nitrogênio e também a definição da
nova espécie”, explica.