Engenheiro agrônomo e analista da
Embrapa

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Não há, até o momento, uma linha de
pesquisa embasada e difundida que demonstre os aminoácidos como vantajosos para
a aplicação de defensivos.No entanto, eles são vistos como precursores
importantes de moléculas que formarão barreiras químicas e fisiológicas. Nesses
casos, as plantas possuem naturalmente moléculas e proteínas capazes de impedir
o desenvolvimento de doenças ou mesmo repelir a ação de insetos-praga.
Muitas vezes essas moléculas
protetoras não estão presentes antes das plantas serem infectadas por doenças
ou atacadas por pragas. No entanto, em uma incrível dinâmica de adaptação, é
desencadeado um complexo mecanismo de defesa conhecido como resistência sistêmica
(RS).
A literatura científica cita várias
formas de resistência sistêmica, entre as quais se destaca a Resistência
Sistêmica Adquirida (RSA), um mecanismo de defesa induzida que permite à planta
proteção contra um amplo espectro de patógenos.
Quando ocorre uma lesão, seja por uma
praga ou infecção por um patógeno, há uma reação de hipersensibilidade e
consequente produção de proteínas e moléculas sinalizadoras, as quais
desencadeiam uma sequência de eventos que protegerão o tecido lesionado, ou mesmo
a planta como um todo.
O uso dos aminoácidos não interfere na atuação dos defensivos agrícolas -Crédito Shutterstock
Os elicitores
As moléculas e proteínas produzidas
pela planta e que iniciam o processo de RSA são denominadas de
elicitores,importantes agentes nos eventos responsáveis pela defesa das plantas
contra as situações adversas que prejudicam seu desenvolvimento e mesmo a sua viabilidade.
Notavelmente complexa, as reações
químicas envolvidas na resistência das plantas não estão completamente
desvendadas. Inúmeros processos fisiológicos e genômicos são responsáveis pela
produção dos elicitores. De igual maneira, independentemente do tipo do
estresse provocado, a forma com que as células identificam o tipo de estresse
sofrido está sendo desvendada apenas com tecnologias genômicas recentes.
Quando começam a ser expressas, as
moléculas responsáveis pela resistência da planta desencadeiam todo um processo
relacionado ao seu metabolismo secundário e ativam um mecanismo latente que
protegerá as plantas dos estresses a que estão submetidas.
Já foi demonstrado, em alguns casos,
que esses podem ser eventos específicos capazes de identificar o patógeno e
produzir, entre outras, moléculas específicas para o controle deste.Por isso,
ao ser discutido que os aminoácidos são benéficos para a absorção de
defensivos, na verdade está sendo comentada sua importância como um precursor
que auxiliará nas defesas naturais das plantas.
Aminoácidos x defensivos
Aminoácidos e defensivos agrícolas
possuem funções distintas. O uso de um não afeta diretamente a ação do
outro.Por exemplo, ao se usar produtos com princípio ativo do glifosato estes
não terão seu efeito inibido por se usar aminoácidos. Esse é um exemplo clássico,
já que esse defensivo inibe a produção de aminoácidos essenciais para o
desenvolvimento da planta (rota de síntese dos aminoácidos aromáticos), sendo
eles o triptofano, a fenilalanina e a tirosina.
Lembrando que aqui o termo aromático
é químico, ou seja, em palavras muito simples, são partes de uma molécula que
possui uma função química específica.No entanto, ao olharmos para uma
estratégia de adubação química, adicionar aminoácidos auxiliará muito no
desenvolvimento da planta. Dessa forma, comparando os efeitos entre “defensivo”
e “adubo”, nota-se que o mesmo tem um efeito muito mais específico no segundo
caso.
Absorção dos defensivos
É muito importante esclarecer que os
aminoácidos não são vistos como “potencializadores” de absorção de defensivos.
A literatura técnico-científica hoje está muito focada, e cada vez mais
expressiva no que se refere ao seu potencial para aumentar a absorção de
nutrientes e alguns minerais, citando o caso específico do enxofre, um exemplo
muito claro.
Em outros casos, facilitarão não a
absorção de nutrientes, mas sim o seu transporte através da planta, ou mesmo o
acúmulo de nitrogênio, como é o caso do aminoácido glutamina.
Sustentáveis
Os aminoácidos podem ser considerados
amigos do meio ambiente. São moléculas orgânicas, naturais, que auxiliam tanto
a planta como o solo. A presença de minerais e aminoácidos junto com a matéria
orgânica mostra um efeito muito positivo junto à microbiota do solo, os quais
disponibilizarão, por exemplo, minerais complexados no solo.
Várias empresas trabalham junto aos
agricultores com produtos que melhoram a qualidade do solo com matéria orgânica
e microrganismos. Um solo fértil rico em matéria orgânica tem potencial de
“abrigar” inimigos naturais às pragas que geralmente são de difícil controle –
os nematoides e fungos saprófitas, por exemplo.