
O consumidor, ao olhar aquela fruta linda no supermercado, não nota os perigos escondidos
nela. No setor hortifrutícola, quando o tema alimento seguro é colocado em pauta, os riscos
químicos são considerados o principal meio de contaminação. Com o aumento da
comercialização de produtos beneficiados, o manuseio das frutas e hortaliças antes de
serem comercializadas torna-se muito grande, ampliando o risco de contaminação biológica.
Os perigos biológicos são resultantes da contaminação dos alimentos por microrganismos
patogênicos, pela multiplicação e sobrevivência destes.
A contaminação microbiana ou contaminação cruzada de produtos hortifrutícolas durante as
atividades de pré-colheita e colheita pode ser o resultado de contatos do produto com o
solo, fertilizantes, água, trabalhadores e equipamentos de colheita. Qualquer um desses
pode ser uma fonte de microrganismos patogênicos ou deterioradores.
O alimento seguro é aquele que não apresenta riscos à saúde humana, não degrada o meio
ambiente e promove a melhora da qualidade de vida das pessoas relacionadas à cadeia de
produção. O consumidor, por sua vez, não consegue avaliar visualmente todos os atributos de
segurança no momento da compra. Os níveis de contaminação microbiológica são invisíveis
e só podem ser determinados por meio de testes laboratoriais.
SAIBA MAIS
Perda de grãos no pós-colheita chega a 4%
Para cada hectare plantado são perdidas, em média, duas sacas de grãos, considerando uma produtividade de 50 sacas, como é o rendimento da soja em Mato Grosso. Esse lastro é o resultado final após as diferentes etapas percorridas dentro da lavoura, ou seja, desde o plantio da semente até que o grão chegue a seu destino final, passando pelo processo de colheita e pré-colheita, transporte longo e curto e armazenagem.
Revestimento com nanotecnologia conserva melhor alimentos
Pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Instrumentação, em São Carlos (SP), têm tido resultados promissores no estudo de nanotecnologias para o agronegócio.
O estudo sobre películas invisíveis e comestíveis de proteção de alimentos tem produzido um material capaz de substituir os plásticos utilizados para envolver e proteger alimentos. A tecnologia permitirá que os alimentos sejam colhidos maduros. Atualmente, frutas e verduras são retiradas dos pés ainda verdes, ou passam por processos de amadurecimento forçado por produtos químicos, com o objetivo de aumentar seu tempo de consumo.
Segundo o coordenador da pesquisa, Rubens Bernardes Filho, o revestimento poderá diminuir em até 40% o desperdício de alimentos no período que vai da pós-colheita até o transporte e a distribuição. “Além disso, a utilização dessa inovação pode agregar valor às frutas e hortaliças brasileiras destinadas à exportação”. diz.
“A fruta é colhida um pouco verde, porque ela vai passar por um período de processamento, transporte, exposição e é ideal que chegue ao consumidor em uma situação adequada de consumo. Se conseguirmos retardar esse processo de envelhecimento, faz com que a colheita seja realizada mais tardiamente. Isso melhora a qualidade da fruta”, explica Bernardes.
Com o revestimento, frutas e verduras podem levar até 20 dias para começar a se degradar após a colheita. Sem proteção, os alimentos levam, em média, quatro dias para iniciar o processo de apodrecimento. O período varia de acordo com o tipo de alimento. A maçã, por exemplo, pode ser armazenada, em temperatura ambiente, de cinco a oito dias. Se estiver revestida, esse prazo aumenta para até 17 dias.
Além da maçã, a pesquisa já foi testada em manga, pera, banana, castanhas e hortaliças. Os filmes comestíveis são produzidos de acordo com cada tipo de alimento e podem ser feitos de amido de milho ou proteínas da soja. “O milho usado para o amido e o óleo da proteína são pouco utilizados, é o rejeito da indústria”, diz o pesquisador.
Os alimentos são revestidos por imersão, banhados em uma solução líquida, e secam naturalmente. Ao secar, um filme invisível se forma na superfície, protegendo os alimentos. Esse filme diminui as trocas gasosas e cria uma barreira impedindo a perda de água do alimento. O revestimento não dispensa a necessidade de proteção, como caixas, para evitar que os frutos se estraguem no transporte até o consumidor.
“O revestimento é muito simples. É basicamente colher a fruta, higienizar, fazer uma lavagem. Uma vez higienizada, ela tem que ser envolvida por um filme”. Ele acrescentou que o procedimento, em escala laboratorial, é simplesmente molhar a fruta, por imersão, em uma solução.
As pesquisas identificaram um efeito antifúngico do revestimento que previne a proliferação dos fungos, além de inibir o crescimento de bactérias. Por outro lado, os estudos indicam que a película pode estimular o consumo. “Identificamos que, nos testes em laboratório, ratos comiam 20% a mais a ração revestida”. A tecnologia, possível devido ao tamanho nanométrico das partículas que compõem as películas, ainda não tem previsão de chegar ao mercado.