Fernando Mendes Lamas
Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
E-mail: fernando.lamas@embrapa.br
Quando analisamos os resultados da produção
agrícola das diferentes regiões brasileiras, constamos que os ganhos na produtividade física obtidos
com a maioria das espécies cultivadas nem sempre se traduz em aumento de
lucratividade. Isto significa dizer que, pode estar ocorrendo: aumento dos
custos de produção e/ou desvalorização dos produtos agrícolas. Parece que a
primeira situação é a que melhor representa o momento atual, ou seja, está
havendo incremento muito grande nos custos de produção (Figura 1).
Figura 1
– Evolução dos custos variáveis/ha para produção de soja em Mato Grosso do Sul,
no período de 2014/15 a 2016/17. Richetti, A. 2017
O
aumento dos custos de produção de forma desproporcional ao valor do produto, é
uma das imperfeições do Mercado. Como corrigi-la? Este é o grande desafio e
para isto, é necessário mudança comportamental.
A
agricultura brasileira tem pela frente grandes desafios, talvez um dos mais
significativos seja: rever os modelos de
produção, passando a olhar não a espécie a ser cultivada, mas sim o sistema
de produção.
De
acordo com a CONAB (2017), em Mato Grosso do Sul, no ano agrícola de 2016/17
foram cultivados 2,52 milhões de hectares com soja e destes, 1, 7 milhões de
hectares deverão ser cultivados com milho (Figura 2). Com o que está sendo cultivado
os outros 800.000 hectares?
Figura 2-
Evolução das áreas cultivadas com soja e milho segunda safra em Mato Grosso do
Sul no período de 2007/08 a 2016/17. CONAB, 2017.
Nas áreas ocupadas com soja no verão
se cultiva além do milho, no período de outono-inverno: algodão, sorgo,
milheto, nabo-forrageiro, aveia, trigo, centeio, braquiárias, etc., mas ainda
fica muita área descoberta, o quanto é difícil calcular devido à inexistência
de estatísticas. Mas, calculo que sejam algo entre 600 a 700 mil hectares. Esta
área, no mínimo poderá estar sendo cultivados com espécies que irão auxiliar as
espécies cultivadas no próximo período de verão, onde a soja é a principal.
A pesquisa agrícola já produziu
conhecimentos que foram transformados em tecnologias que, se adotadas, podem
impulsionar significativamente a produção de soja, de milho e de carne em Mato
Grosso do Sul. Uma dessas tecnologias é o consórcio do milho com a braquiária ruziziensis, a integração
lavoura-pecuária e floresta, são exemplos.
Quando cultivado em consórcio com a
braquiária, a produtividade de grãos do milho não é reduzida, há produção de
forragens que pode ser utilizada como pastagem, especialmente no
período do ano onde a oferta de forragem é muito limitada por conta das
condições climáticas, escassez de água e
temperaturas baixas. Bovinos se alimentando de forragem produzida em consórcio
com o milho, no mínimo não vão perder peso, com isto deixa de existir o boi “sanfona”,
o que já é muito interessante. O animal não perdendo peso no período das secas,
com certeza haverá redução da idade de abate, um grande desafio no processo de
modernização da pecuária de corte, especialmente no Brasil Central. No entanto,
se o manejo da braquiária e dos animais for adequado, tem-se ganho de peso
destes. Assim, vamos ter duas safras de grãos (soja e milho) e produção de
carne, além da uma menor emissão de gases de efeito estufa. Isto acontecendo,
tem-se ao mesmo tempo a intensificação da produção e a integração. Com certeza,
ocorre uma melhoria da margem de lucro por unidade de área. A braquiária ainda
vai deixar o solo coberto e suas raízes irão contribuir para a melhoria do
ambiente onde vai crescer as raízes da soja, por exemplo. A biomassa da parte
aérea e do sistema radicular da braquiária vai proporcionar o acúmulo de
carbono no solo, o que resultará em incremento na produtividade de soja, por
exemplo.
Na ausência do preparo do solo, com aração e
gradagem, são as raízes das plantas as responsáveis pelo condicionamento do
solo para a próxima semeadura. Portanto, a adoção do Sistema Plantio Direto
requer diversificação de culturas, com inclusão de espécies de abundante
sistema radicular, capaz de condicionar o solo para a safra seguinte.
Plantas daninhas de difícil controle
são adequadamente manejadas quando no período de inverno, o solo permanece
coberto com vegetação ou palha. Exemplo de uma planta daninha cujo manejo
impacta significativamente no custo de produção é a buva, e se não for
adequadamente manejada trará prejuízos quantitativos para a soja.
A intensificação e a integração devem
ser feitas de acordo com os preceitos do Sistema Plantio Direto.
O sistema plantio direto, vai muito
além de simplesmente não preparar o solo com arado e grade. Este sistema de
manejo de solo, o mais adequado para as condições tropicais, exige a cobertura
permanente do solo com espécies vegetais em crescimento e/ou com palha, o não
revolvimento do solo além da linha de semeadura e rotação de culturas. A não
observação de qualquer um destes fundamentos, coloca em risco o sistema, cujas
consequências podem trazer efeitos altamente negativos para a produção
agropecuária.
Em resumo, rever o modelo de agricultura
atualmente em uso, levando-se em consideração a necessidade de intensificar e
integrar as atividades dentro da visão de sistema de produção, é a estratégia
mais adequada para fazer frente aos grandes desafios impostos pela necessidade
de se aumentar a produtividade dos diferentes fatores de produção. Nesta
revisão do modelo de produção, é imperiosa a adoção do sistema plantio direto,
levando-se em consideração os fundamentos básicos do sistema. Finalizando, é
importante que todos estejam atentos às transformações por que passa a
agropecuária brasileira. Estamos entrando na era da agricultura 4.0, junto com
esta nova era, estão em curso profundas transformações. Estas estão intimamente
ligadas ao tema deste artigo, que traz como mensagem a necessidade de atitudes
que assegurem a sustentabilidade da produção agrícola, baseada nos sistemas
integrados de produção, que proporcionam intensificação de resultados.
Comentários
Postar um comentário
Os comentários não emite nenhuma opinião do blog, sendo de total responsabilidade do usuário.