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Nascer do sol na Amazônia – Foto: Fábio Paschoal
A Amazônia foi minha casa durante um ano. Morava em um hotel, no meio da floresta, isolado da civilização. A única maneira de chegar era de barco e os celulares não funcionavam nem por bem, nem por mal. A internet existia, mas era tão lenta que demorava mais de meia hora para checar um simples email. Meu trabalho era guiar grupos interessados em história natural e fazer passeios para a observação de animais selvagens. Acabei desenvolvendo uma relação especial com a floresta e me sentia em casa quando andava pela mata. Hoje, 5 de setembro , no Dia da Amazônia, gostaria de fazer uma homenagem compartilhando um pouco da minha experiência vivida nesse lugar maravilhoso. Para isso recorri ao meu diário, que fazia ao final de todas as noites, e selecionei o texto que escrevi no meu último dia por lá:
“Essa parte da minha vida se chama Amazônia, e envolve abrir mão de coisas importantes como família e amigos. Mas também inclui olhar pra mim e descobrir o que eu quero, aprender coisas novas a todo o momento, acordar sem saber como vai ser o dia, mas saber que o dia vai ser fantástico e, de quebra, conhecer um dos lugares mais extraordinários do planeta.
A Amazônia é uma terra de superlativos: É a maior floresta tropical do mundo, com mais de 40.000 espécies de plantas. Em nenhum lugar na Terra se encontram tantas aves, peixes de água doce ou borboletas diferentes. Esta é a casa de uma em cada dez espécies conhecidas pela ciência. Entre elas estão a onça-pintada, o maior felino das Américas; a surucucu, a maior víbora da Terra; a sucuri, a cobra mais pesada do mundo; a harpia, a maior ave de rapina da América do Sul.
Viver na Amazônia é uma experiência única. Só estando aqui, dia após dia, enfrentando o sol causticante nos dias de seca e as chuvas intermináveis na temporada da cheia, acompanhando a mudança no comportamento dos animais que precisam se adaptar a essas diferentes estações, observando as aves migratórias chegando quando o alimento é abundante e indo embora quando o mesmo fica escasso, experimentando os frutos, gostosos ou não, que se desenvolvem nas diferentes épocas do ano, reparando no ciclo de vida das borboletas… Só assim é possível se ter uma vaga ideia do que é esse lugar. Um lugar que aprendi a amar! A Amazônia me ensinou como ser uma pessoa melhor. Aprendi muito sobre o ecossistema e sobre as relações entre os seres vivos e o meio ambiente. É impressionante como tudo isso é perfeito e frágil ao mesmo tempo.
Conheci pessoas inesquecíveis, gente com um coração do tamanho do mundo, que me faz acreditar que ainda existe esperança para a Terra. Aprendo muito todos os dias e não me canso de ver coisas que me fascinam. A Amazônia me proporcionou muito mais do que eu poderia sonhar e só tenho a agradecer por ter conhecido essa floresta. Mas, após um ano estou chegando ao meu limite, e está na hora de procurar novos ares.
Saio daqui com muito mais conhecimento, mas com a consciência de que ainda sabemos muito pouco sobre esse lugar. E esse motivo sozinho, entre tantos outros que existem por aí, já seria suficiente para preservá-lo. A Amazônia vai deixar saudades, mas estará sempre viva na minha memória e no meu coração.”
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